27 de dezembro de 2009



Terça-feira, dia 29 de Dezembro, pelas 18 horas, na Livraria Capítulos Soltos, o poeta João Ricardo Lopes apresenta o poemário fotográfico de minha autoria (parceria com o fotógrafo Pepe Brix).

Apareçam!

26 de dezembro de 2009



O ano de 2009 foi como qualquer outro. Com coisas boas e coisas menos boas. Como sempre sobra o que esteve perto da poesia... Guardo com carinho a recente amizade com Luandino Vieira e os lançamentos do livro RUMORES (Santa Maria, Lisboa, Santo Tirso). Espero que 2010 seja um ano de poesia, também!

17 de dezembro de 2009

LANÇAMENTOS EM DOSE DUPLA









Depois da apresentação em Lisboa, na Livraria Pó dos Livros, no passado dia 21 de Novembro, eis que o meu mais recente livro será apresentado no Norte, finalmente. Em Santo Tirso é já no dia 22 de Dezembro, pelas 19 horas na Biblioteca Municipal, com apresentação do Professor António Oliveira e sete dias depois, a 29 de Dezembro, em Braga, na Livraria Capítulos Soltos, pelas 18 horas, estando a apresentação a cargo do poeta João Ricardo Lopes.

Os livros estarão à venda a um preço especial de lançamento na Biblioteca de Santo Tirso. Apareçam e levem uma prenda de Natal convosco!

Um abraço natalício, Daniel.

29 de novembro de 2009

REGRESSAR À NORMALIDADE


Decidi há dias regressar ao tempo em que comunicava por carta. Decidi regressar à normalidade de um tempo em que os amigos eram verdadeiros e a única coisa virtual era a própria palavra virtual. Amigos eram os que correspondiam e se davam ao trabalho de colar um selo com a sua língua...

Acabei com o Facebook e com o Twitter. Não doeu nada, pelo contrário, senti uma espécie de alívio. Não vou ter pena dos duzentos e tal amigos... deixei lá o meu endereço. Quando sentirem a minha falta, é só escreverem-me. Contam-me então todas as coisas que os deixam felizes, apenas aquelas que interessam e nada de quintas virtuais! E depois eu respondo sempre, sempre e mando prendinhas também.

Mantenho-me, contudo, neste blogue. É uma coisa minha nem que seja apenas para mim, embora saiba que há muitas pessoas que o lêem. A elas deixo o meu carinho e a vontade que me escrevam, também. E depois, já sabem, respondo sempre.

Um abraço, Daniel.

12 de novembro de 2009






nem sempre estamos juntos
nem sempre nos recolhemos na mesma concha

nem sempre percorremos o mesmo mapa
nem sempre apanhamos as mesmas pedras do caminho

nem sempre beijamos com a mesma boca
nem sempre nem sempre

nem sempre escutamos o tempo desavindo
nem sempre repetimos a nossa manhã perfeita

nem sempre havemos de compreender porquê
porquê nem sempre porquê nem sempre




(para a BETA)

8 de novembro de 2009




tenho estado à espera de um beijo teu
como se nada mais importasse neste mundo injusto


5 de novembro de 2009



lembra-me da primeira vez
era inverno pela metade ainda
a noite tão longa e tão pouco tempo

lembra-me da primeira vez
havia incensos e velas que estavam apagadas na sua cintilação
mas iluminavam de maçã e canela o teu quarto

lembra-me da primeira vez
o teu quarto era a tua casa
cabiam os teus livros as minhas cartas a nossa espera

lembra-me da primeira vez
desenhámos nas nossas mãos o caminho que queríamos traçar
o mapa que depois havíamos de entornar sobre as nossas próprias bocas

lembra-me da primeira vez
eu lembro apenas que quase esqueci


24 de outubro de 2009


Ut liceat nobis tota perducere uita

aeternum hoco sanctae foedus amicitiae.


e que nos seja dado, a vida inteira, sempre

este pacto viver de amor sagrado.


(Catulo)



e se não tenho mais nada

que tenha ao menos

esta palavra


guardada como o único beijo

que sobrou do silêncio


uma palavra como um

gerânio


contra toda a ferocidade

do inverno


uma palavra: o teu

nome



16 de outubro de 2009

quase que esqueci o verão
agora que tropeço nas folhas breves
os cheiros nómadas dos dióspiros

só me resta a mão fechada
e dentro dela

a última ameia da praia

1 de outubro de 2009

versão 5

depois de alguns dias à volta deste poema, vestiu-se desta forma: a estrutura está pronta, falta, porventura limpar alguma imprecisão. tenho de o dedicar à sandra, obviamente, pela cumplicidade nas leituras. obrigado.


o vestido que trazes está gasto como o nome que deste ao amor

saqueado como o chão da seara depois da fermentação do verão

inútil como uma palavra à roda de um poema que não se iluminou


o vestido que trazes arruinou a sua bainha e desfiou-se a chorar

parece um jornal amarrotado uma película translúcida de silêncio

deixando ver as feridas nos joelhos o coração resistindo ao vento


passou de moda porque deixaste de te despir com a luz acesa

e o espelho já não alcança a parede onde havia um outro retrato


já não te serve porque esqueceste de mudar a água aos girassóis

e agora há uma escuridão que se enovela à volta da tua tristeza

pesando sobre os teus olhos como uma pedra tirada a um poço

ou uma música de embalar de onde se perdeu a letra e o sonhar


o vestido que trazes está perfumado de pérolas que se partiram

num excesso das sombras que musicam a vaivência da solidão


e como uma vinha a quem se arrancou o chão antes da vindima

pareces-me abreviada despida exangue impossível descosturada


28 de setembro de 2009

versão 4 (mais um detalhe à procura do fim)

o vestido que trazes está gasto como o nome que deste ao amor

saqueado como o chão da seara depois da fermentação do verão

inútil como uma palavra à roda de um poema que não se iluminou


o vestido que trazes arruinou a sua bainha e desfiou-se a chorar

parece um jornal amarrotado uma película translúcida de silêncio

deixando ver as feridas nos joelhos o coração resistindo ao vento


passou de moda porque deixaste de te despir com a luz acesa

e o espelho já não alcança a parede onde havia um outro retrato


já não te serve porque esqueceste de mudar a água aos girassóis

e agora há uma escuridão que se enovela à volta da tua tristeza

pesando sobre os teus olhos como uma pedra tirada a um poço

ou uma música de embalar de onde se perdeu a letra e o sonhar


o vestido que trazes está perfumado de pérolas que se partiram

num excesso das sombras que musicam a vaivência da solidão


e dói como dói

VERSÃO 3 (DEDICADA À SANDRA)


o vestido que trazes está gasto como o nome que deste ao amor

saqueado como o chão da seara depois da fermentação do verão

inútil como uma palavra à roda de um poema que não se iluminou


o vestido que trazes arruinou a sua bainha e desfiou-se a chorar

parece um jornal amarrotado uma película translúcida de silêncio

deixando ver as feridas nos joelhos o coração resistindo ao vento


passou de moda porque deixaste de te despir com a luz acesa

e o espelho já não alcança a parede onde havia um outro retrato


já não te serve porque esqueceste de mudar a água aos girassóis

e agora há uma escuridão que se enovela à volta da tua tristeza

pesando sobre os teus olhos como uma pedra tirada a um poço


24 de setembro de 2009



DO POEMÁRIO DO POEMÁRIO...

Partilho convosco a construção deste poema, momento a momento, até ser alguma coisa, próxima daquilo que foi o seu sonho.


DIA UM:



o vestido que trazes está gasto como o nome que deste ao amor

saqueado como o chão da seara depois da fermentação do verão

inútil como uma palavra à roda de um poema que não se iluminou


o vestido que trazes já não é teu há tanto tempo que o seu pretérito

é mais perfeito que a primeira vez que deixaste de ser transparente



DIA DOIS:



o vestido que trazes está gasto como o nome que deste ao amor

saqueado como o chão da seara depois da fermentação do verão

inútil como uma palavra à roda de um poema que não se iluminou


o vestido que trazes arruinou a sua bainha e desfiou-se a chorar

parece um jornal amarrotado uma película translúcida de silêncio

deixando ver as feridas nos joelhos o coração resistindo ao vento


passou de moda porque deixaste de te despir com a luz acesa

e o espelho já não alcança a parede onde havia um outro retrato


21 de setembro de 2009



há uma criança brincando no baú das memórias

devastando o silêncio solene do esquecimento

de repente as coisas que antes eram portas fechadas

agora são cores que nos libertam da dor de morrer



17 de setembro de 2009




porque lá fora talvez encontres a razão de teres acordado
olhas da janela como se ainda não soubesses quem és

mas a verdade é que não vale a pena perder tempo à procura
daquilo que certamente trouxeste atado às mãos

um nome de um lugar que sonhaste esta noite
e uma casa noutro lugar onde tudo podia ser diferente

excepto o teu nome com cheiro de rosas e precipício de mar
capaz de abraçar o céu e inventar uma nova palavra

por isso fá-la tua e escreve um caminho na tua manhã

e sai

10 de setembro de 2009


UM POEMA PARA O PAI DO PAULO E PARA A MÃE DA PAULA



a árvore da vida assenta no chão fecundo do amor
e à volta dela todas as pequenas coisas contam
se o coração é puro e as asas continuam por achar

a árvore da vida cresce no meio das nossas promessas
e deixa-nos à sombra daquilo que poderíamos ter sido

a árvore da vida tem frutos que são pássaros
e pássaros que são palavras refulgentes

os nomes que havemos de dar aos nossos filhos
ou os livros com que o nosso ventre
há-de aprender a cerzir outra forma de sermos eternos

a árvore da vida é o passadiço para a morte subir até deus e dizer
afinal nada tem um fim e tudo isto é apenas outra forma de viver






(porque o peso das palavras é grande
preferia o abraço)

9 de setembro de 2009




capacito-me para o fim do verão
recolhendo as últimas imagens

cosendo as partes líquidas de um naufrágio
que se faz de uma tentação sem oceano

e adormeço antes que a noite se arboresça sobre nós
antes que a música se cale

e o frio regresse

5 de setembro de 2009





vejo-te como uma palavra a quem ainda não se deu um nome
uma altíssima constelação
cega do peso todo da noite

e no entanto quero abraçar-te
render-te nas minhas mãos e contar-te os lugares onde fui ver
se o mundo era apenas um búzio fechado

revela-te abre uma boca no teu rosto e diz-me
se és rosa papel argila ou pedra

que eu estou cego e já não vejo para além
da luz inicial da paixão


14 de agosto de 2009

NOVO LIVRO DE DANIEL GONÇALVES


Será lançado, durante o 25º Festival Maré de Agosto, o livro de fotografia de Pepe Brix e de poesia de daniel gonçalves. São 30 fotos de uma exposição sobre a Europa de Leste e poemas inspirados por esses lugares. Uma edição Labirinto. O lançamento ocorrerá dia 21 de Agosto na Ermida de Santo Amaro, Ilha de Santa Maria.





é uma viagem que não sabes como deflagrou

um espaço imenso à tua volta

que te incendeia os sentidos



fotografias que estão do outro lado do espelho

e uma música que solta a bombordo da tua alma

o pedaço de silêncio que te faltava



são sobretudo as palavras que te minavam as mãos

se quisesses mostrar o teu coração a alguém



e uma conta infinita de sonhos

cada um deles como uma árvore acabada de florir







(para adquirir o livro visite a casa da editora Labirinto, aqui)

21 de julho de 2009

amigos: iniciei um novo projecto, está apenas numa fase inicial, mas pode ser acompanhado em:

http://poemasvestidos.blogspot.com


um abraço, daniel.

16 de julho de 2009





a música é a poesia no seu expoente máximo
de loucura

porque irradia sem misericórdia
pela infinitude do universo

porque nos atravessa
e deixa um gosto amargo

a eternidade




TRIVIA: Fui a um concerto dos The Durutti Column, um espectáculo em homenagem a Tony Wilson, o mentor desta banda e fundador da mítica Factory Records. Estava lá na frente, a um metro dos músicos. I'm a lucky guy these days.


13 de julho de 2009





a voz é arrancada do coração
e solta no emerso amplexo
da noite

cala-se quando devia arrastar consigo
os pássaros todos do mundo

o coração de onde veio
tinha morrido de tristeza



TRIVIA: assisti à Premiére da Ópera PRIMA DONNA de Rufus Wainwright, na Opera Pallace Theatre em Manchester. Rufus estava lá, travestido de Verdi e o seu namorado de Puccini, glamorous!


9 de julho de 2009

momento com wordsworth em grasmere


Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind.

PS: os cemitérios em inglaterra são locais aprazíveis...
momento com sylvia plath em heptonstahl



I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful ‚
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.

Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.

4 de julho de 2009


INSTANTES EM ALBION:



1: Não se paga para visitar um museu.





2: Os anglicanos são mesmo cool.





3: Os Beatles estão presos ao merchandising louco de Liverpool.






4: Haja dinheiro para gastar...






5: O tempo cabe todo nesta terra.



Vi o concerto/espectáculo mais belo da minha vida. Creio que jamais verei outro assim. Foi absolutamente overwhelming! Antony cantou como só ele canta, mas a Camerata Orchestra of Manchester fez um trabalho fantástico com os arranjos de Nico Muhly e o espectáculo visual de Paul Normandale, Carl Robertshaw, Chris Levine e Emma Westerberg. Aquilo foi como estar emerso num sonho! Quem me dera dizer o que senti num poema: nunca mais escreveria outro.

PS: Manchester rules! É a capital da mini saia!

26 de junho de 2009



CARÍSSIMOS LEITORES E AMIGOS,


De 28 de Junho a 25 de Julho estarei em Manchester (UK) a frequentar um Curso de Escrita Criativa na Universidade de Manchester. A todos um bom verão com muita poesia e bons sonhos!

Um abraço, Daniel.

14 de junho de 2009






a terra dá-nos tudo o que
precisamos

e tudo aquilo de que estamos
à espera

basta amar as pedras
e as sementes

e os pássaros

e as abelhas


6 de junho de 2009

28 de maio de 2009





a cidade faz-se de subterrâneas noites

suturando as partes desavindas da arquitectura

 

a cidade faz-se de candeeiros desabrigados

fingindo uma sombra sobre a solidão das horas

 

a cidade faz-se de palavras reservadas

aguardando a olorosa inquietação dos poetas

 

a cidade faz-se de escadas cambaleantes

abrindo um pórtico no chão do silêncio

20 de maio de 2009




hás-de me dizer
com quantas mãos
nos esquecemos

com quantas mãos
nos amamos

com quantas mãos
nos devolvemos
ao amor do silêncio







moinho de vento (qualquer um: de pé e alante)



és um pássaro de pedra

atado ao chão


não fosse o peso

do teu coração


o mesmo vento que

te meneia

na tua precisa

sonolência


no teu inquieto

murmúrio


levar-te-ia além da

colina


onde é possível

tocar a raiz do azul



in "a casadescrita"

19 de maio de 2009




Há dias por uma diferença de apenas dois votos e duas abstenções foi reprovado um diploma na Assembleia Legislativa Regional dos Açores que visava a legalização da Sorte de Varas na Ilha Terceira. Parece impossível como é que um assunto de tão óbvia barbárie mereça sequer discussão. Ainda bem que o assunto morreu na praia.

PS: Sei que este blogue é dedicado a outras palavras, normalmente em minúsculas incursões ao sonho da poesia, mas a vida dos animais também é poesia, perguntem ao São Francisco de Assis.

17 de maio de 2009





Acabou hoje o sufoco de quatro temporadas de Prison Break. Custou, mas a liberdade teve um preço, o preço que todos temos de pagar se queremos um mundo melhor.



tenho para te dar o meu corpo
despido de todas as palavras

o meu corpo como uma folha branca
para escrever nele o teu nome

e deixares que te cubra
se o inverno ainda te persegue







é uma viagem que tu não sabes como começou
um espaço imenso à tua volta
que te incendeia os sentidos

são fotografias que estão do outro lado do espelho
e uma música que solta a bombordo da tua alma
o pedaço de silêncio que te faltava

são sobretudo as palavras que te minavam as mãos
se quisesses mostrar o teu coração a alguém

e uma conta infinita de sonhos
cada um deles como uma árvore acabada de florir





16 de maio de 2009



Partilho convosco uma pequena maravilha... um presente de fim-de-semana. Enjoy!



I was lying in my bed last night
Staring at a ceiling full of stars
When it suddenly hit me
I just have to let you know how I feel

We live together in a photograph of time
I look into your eyes
And the seas open up to me
I tell you I love you
And I always will

And I know that you can't tell me
And I know that you can't tell me

So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion
So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion

I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart

It's out of love
It's out of love

I accept and I collect upon my body
The memories of your devotion

I accept and I collect upon my body
The memories of your devotion

I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart

It's out of love
It's out of love...

14 de maio de 2009






pões a tua mão nas coisas
simples do mundo

e a primavera acontece

como se bastasse apenas
acertar o jeito a algumas palavras
e às flores sobre a mesa



(parabéns susaninha)



Esta versão ao vivo da banda islandesa mostra como a poesia cabe em todo o lado!




há um caminho que nos faz acreditar
que nenhum esforço é vão

que todos os passos nos levam a um outro abraço
sempre maior

ou a outra fonte
onde a sede se apaga
como uma criança que adormece no meio do choro

há um caminho que espera por nós
e se faz dos nossos sonhos
enquanto estamos parados no meio do inverno

com as mãos frias e o coração fechado
como um ninho de melros à espera de outra canção

eu sei que a primavera é pontual como toda a manhã
e que não se importa com quantas árvores
o mundo a espera

mesmo que chova e que num ou noutro andamento
pareça que mova o mundo de lugar



(ensaio para um pensamento sobre a primavera)

10 de maio de 2009




No Espaço Contagiarte no Porto, está patente uma Exposição Fotográfica de Pepe, com textos da minha autoria. É o projecto embrionário que dará à luz em forma de livro-álbum, brevemente.

2 de maio de 2009



musée d'orsay



tudo pode caber
numa casa

uma gare para as mil
locomotivas dos
sonhos

um búzio
para os tesouros
do mundo

um relógio do tamanho
do tempo

vendo passar o rio
e a luz da
cidade




in "a casadescrita" - poema para a beta

27 de abril de 2009

Obrigado pelo amável interesse no meu livrinho "casadescrita"... fico feliz por saber que há alguém desse lado. Partilho convosco, um dos textos:



a casa escrita


a casa escrita

abre a sua grande janela

musical


deixa volutear as suas cortinas

brancas


como a orla de uma dança

cristalina


e chama as cotovias

a água primordial

do dia


o gato azul


para se sentar

no colo do poeta

24 de abril de 2009




Compus recentemente um livrinho de poemas com o nome "a casadescrita". É uma edição de autor, limitada a 25 exemplares. OFERTA para os cinco primeiros interessados deste blogue, basta escrever um mail para malbusca@me.com

15 de abril de 2009







talvez seja verdade que os pássaros morrem longe
que ninguém os vê abraçarem a eternidade
e largarem as asas para tomarem uma palavra
uma gota comunicante com a orla do infinito

talvez seja verdade que tudo o que basta é uma janela
um outro lado para onde possamos olhar
um espaço onde a luz ainda é feita a partir da paz
ou de outra qualquer forma encontrada com a manhã

talvez seja verdade que temos as mesmas asas dos pássaros
e que podemos ficar tão sós que nem a morte nos reconheça
tão inteiros como nenhuma outra árvore
tão sinceros como nenhum outro poema





todos os artistas criam
obras de arte

cânticos
bordados
peças tiradas à boca dos pássaros

brancura intacta de deus
a pedra crescente
um corpo imenso ocupando o silêncio

tecidos escritos à mão
e outras asas para prender o desejo
de ver tudo

todos os artistas criam
obras de arte

mas é tão pequeno este lugar
e ainda mais pequeno
o tempo que nos dão para amar o mundo

e todos os seus artistas
e todas as suas obras de arte

2 de abril de 2009

1 de abril de 2009





até amanhã
amanhã
quando voltarmos
a este lugar

com outro olhar
outro sabor no coração
outra palavra
para habitarmos
o poema

até amanhã
que sempre havemos de ser
amanhã

que não há limite
nem horizonte
para quem acredita

que fecha os olhos
e escolhe um sonho
para acordar
outra vez

31 de março de 2009



acabamos sempre sozinhos
desenlacemos as mãos
fitemos as árvores do mundo
a água que inunda a última margem
do litoral

acabamos sempre sozinhos
enlacemos as mãos
sonhemos com os últimos grãos puros
da nossa sede

façamos desta morte suspensa
um poema para regressarmos
ao nosso primeiro beijo

acabamos sempre sozinhos
cortemos as nossas mãos
façamos delas trapézios para o desejo
e depois naufraguemos no primeiro instante feliz

acabamos sempre sozinhos
e o amor acaba sempre por ter razão

nunca se ama para possuir
ama-se para perseguir o sonho

de termos asas e alguma esperança
(quanto antes)










tirei de mim o mais útil segredo
e agora estou despido
com o mar à porta

nem cesariny me pode salvar
do silêncio


(versos evidentes: com radiohead)

29 de março de 2009



(depois de ver o filme THE DOG PROBLEM)



a vida é uma negociação delicada
e o amor é uma moeda
com que podemos pagar
a inventação do futuro

certos de que é preciso sair de casa
e deixar tudo para trás

certos de que alguém espera por nós
um cão um livro um lugar uma pessoa


28 de março de 2009




poema com jackson pollock


estamos os dois sem saber o que fazer
com as mãos

ouvindo música por dentro do vazio
escutando a voz de um dos deuses
que nos criaram

estamos os dois à espera que amanheça
ou que o novelo do caos
regresse à sua maré cheia

e nos deixe mais próximos do silêncio
porque é aí que se pode morrer em paz

porque é aí que o traço vago ganha o seu poema
e a palavra hesitante encontra a sua cor








eu sou pequeno
tão ínfimo
na minha palavra
minúscula

tão quase nada
que o universo
quase não dá
por mim

tão redondo
tão liso
que a água
passa por mim

e o vento
passa por mim
e passa por mim
a borboleta
e a estrela
cadente

mas existo
ainda assim
nesta boca pérola
com o búzio
silêncio




para os visitantes deste blogue, obrigado

27 de março de 2009


(ensaio para uma confissão do ciúme)


possuo-te como se não fosses apenas minha
como uma árvore de onde nasce a luz da manhã
feita de raízes dentro do meu coração
para a claridade de todo o mundo

és de todos quantos te querem ver
e se eu pudesse fechava-te no meu búzio
numa escuridão que acabava por te secar

24 de março de 2009




sei que há um gato algures que te quer mimar
um gato com coração de gaivota

um gato ave ou gato anjo
que tanto faz se a asa é para voar
ou para inventar a luz numa oração

sei que tenho de me chegar a ti
enquanto há primavera e vale a pena ver-te à janela
enquanto não te fechas dentro de casa
ou dentro de outro gomo do coração

sei que um gato algures podia ajudar-me
e quem diz um gato diz um poema

e quem diz um poema diz este
abraço




para a margarida flor





21 de março de 2009



a poesia veio ter comigo num dia de chuva
tinha o corpo molhado até à palavra mais ínfima
diria que era um dia triste
um dia para se morrer contra a janela do esquecimento

olhei para a poesia como quem fita o âmago de uma candeia acesa
mas no lugar da luz estava uma canção
no lugar da chama estava um bicho da seda
e dali saía o manto branco com que me vesti

aos poucos fui perdendo o frio
o sangue coagulado com a tristeza de haver apenas silêncio

comecei a acreditar no mistério do meu nome
na estrela que faz a noite parecer mais azul do que o mar
e com ele fui-me chamando para junto das flores e das pedras
como uma palavra acabada de caiar

enrolei-me na minha sombra
e esse casulo criou um verso para eu falar aos anjos

a partir desse dia nunca mais fiquei sozinho
e os anjos esses
apareceram com mais frequência à janela da minha casa






ao anjo joão pinto e aos anjos que me têm mostrado novas palavras

10 de março de 2009


as mãos criam o mundo
devagar

puxam da terra as estrelas
a pequenas coisas
que nos ajudam a sonhar

as mãos fiam e fiam
tudo o que nos há-de
cobrir

as roupas com que dançamos
o suor com que lavramos
os campos por florir

as mãos guardam os mistérios
as memórias e as cores
da tradição

guardam o nome das coisas
como quem protege um beijo
no coração

as mãos criam o mundo
devagar

e hão-de ser sempre elas
dobando e alando o caminho
com que havemos de perdurar